Santa Isabel
Rainha de Portugal

“Anjo da Paz, flor do espírito cristão”

Uma flor na corte de Aragão

Isabel nasceu em 4 de janeiro de 1271, no palácio de Aljafería, em Saragoça, na Espanha. Era filha de Pedro II, rei de Aragão, que na época ainda era apenas um jovem príncipe. Desinteressado em cuidar da filha, confiou sua educação ao próprio pai, o rei Jaime I, convertido sinceramente ao cristianismo. Foi sob esse olhar paterno e piedoso que Isabel cresceu, recebendo uma formação rara para uma princesa — mais voltada à fé do que à política.

Ainda menina, Isabel já demonstrava um coração voltado para Deus. Enquanto outras jovens se encantavam com as festas e vaidades da corte, ela buscava o silêncio da oração, a leitura espiritual e o jejum. Seu avô, comovido pela doçura da neta, chamava-a de “Rosa da Casa de Aragão”, como quem já pressentia a santidade que nela florescia.

Casamento, cruz e missão

Aos doze anos, Isabel foi prometida em casamento a Dom Dinis, herdeiro do trono de Portugal. Seu pai recusara outros príncipes e optara por aquele casamento político, como era comum à época. Em 1282, Isabel deixou sua terra natal e passou a viver em Portugal, onde foi coroada rainha ainda adolescente.

Ali começava não apenas sua missão como soberana, mas também sua cruz. Dom Dinis era um homem culto e habilidoso no governo, mas fraco diante das tentações mundanas. Teve diversos filhos fora do casamento, o que trouxe à rainha dor e humilhação. Contudo, Isabel jamais revidou. Em silêncio, acolheu até mesmo os filhos ilegítimos do marido, criando-os com ternura e ensinando-lhes os valores cristãos.

Esposa fiel, mãe amorosa

Do casamento com Dom Dinis nasceram dois filhos: Constança, que se tornaria rainha de Castela, e Afonso, o futuro rei de Portugal. Isabel ainda perderia precocemente a filha e o genro, criando ela mesma o neto, também destinado à realeza.

Durante toda a vida conjugal, Isabel respondeu às traições e conflitos com uma fé inabalável. Nunca reclamou, nunca se justificou, nem quando foi caluniada por cortesãos mal-intencionados. Pelo contrário, respondia com perdão, penitência e oração. Seu maior desejo era alcançar a conversão do marido — o que, com o tempo, Deus lhe concedeu.

Costumava dizer:
“Onde, senão na corte, são mais necessárias as mortificações?”
— pois ali, entre os perigos do poder e da vaidade, Isabel via a necessidade de maior vigilância espiritual.

Pacificadora entre reis

Mais do que uma rainha piedosa, Isabel foi uma mulher de ação, uma verdadeira construtora da paz. Interveio em disputas familiares e políticas, buscando sempre a reconciliação. Em 1297, ajudou a firmar o tratado que estabeleceu as fronteiras entre Portugal e Castela. E, em 1322, quando seu marido e seu filho estavam prestes a entrar em guerra, montou num jumento e foi ao encontro dos dois exércitos. Com palavras de amor e coragem, pôs-se entre pai e filho, conseguindo a reconciliação. Foi então que o povo passou a chamá-la de “anjo da paz”.

Caridade que tocava os corações

Enquanto a corte se envolvia em banquetes e disputas, Isabel socorria os pobres, visitava os doentes e distribuía esmolas. Muitas vezes, ela mesma preparava os alimentos para os necessitados. Um dos episódios mais conhecidos de sua vida foi o milagre das rosas: surpreendida por Dom Dinis enquanto levava pães escondidos no manto, ao ser questionada, as mãos se abriram e os pães haviam se transformado em flores — sinal do carinho de Deus por sua caridade discreta.

Fundou diversas instituições de acolhimento: o Hospital dos Inocentes, em Santarém, para crianças abandonadas; o Mosteiro de Santa Clara de Coimbra, para jovens piedosas da corte; o mosteiro de Almoster, além de hospitais, asilos e creches. Ela mesma tratava dos leprosos e dos pobres, vendo em cada rosto a imagem de Cristo.

Vida consagrada após a realeza

Com a morte de Dom Dinis, em 1335, Isabel renunciou ao luxo da corte. Depôs sua coroa real sobre o altar de São Tiago de Compostela e distribuiu sua fortuna entre os pobres e as instituições que havia fundado. Ingressou na Ordem Terceira Franciscana e passou a viver em Coimbra, perto das Irmãs Clarissas, em pobreza voluntária, oração e serviço aos mais necessitados.

Último gesto de paz e partida para o céu

Mesmo debilitada, em 1336, Isabel viajou até Estremoz para evitar um novo conflito entre seu filho, agora rei Afonso IV, e o rei de Castela, seu genro. Essa foi sua última missão de paz. Pouco depois de chegar, no dia 4 de julho de 1336, Isabel entregou sua alma a Deus. O povo encheu o quarto de flores, como um último tributo àquela que havia sido uma flor de Deus no meio do mundo.

Seus restos mortais foram sepultados no Mosteiro de Santa Clara, em Coimbra. Seu corpo foi encontrado incorrupto anos depois.